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Profissional Finlandês Miikka "Chuck Bass" Anttonen fez aposta colocando em risco a carreira e perdeu

Foi a 30 de Setembro de 2017, que o jogador profissional Miikka Chuck Bass Anttonen, tornou pública a sua mais recente prop bet. Uma aposta muito arriscada, que em caso de derrota implicava o seu adeus ao poker. E infelizmente para ele, o pior aconteceu.

A aposta em questão implicava que Chuck Bass, começando com €500, fosse capaz de no espaço de 120 dias chegar aos €10.000 a jogar torneios multi-mesa. Além disso teria o fazer jogando num máximo de 100 dias, e com a obrigatoriedade de entrar em pelo menos 1.000 torneios, eliminando assim a possibilidade de ganhar a aposta, com apenas um prémio num torneio de maior buy-in.

Além de ter a carreira em risco, Chuck Bass teria ainda de pagar uma avultada quantidade de dinheiro que não foi revelada.

Então, ao apresentar a aposta, disse que estava a passar por uma má sequência:

Fiz menos de 10K neste ano a jogar poker, e nos últimos 2 meses 95% das sessões foram negativas, fazendo 30 depósitos sem qualquer levantamento. Sinto-me completamente esgotado, e não estudo há muito tempo. Não ganho nada remotamente respeitável no poker há 2 anos (se bem que não me tenho dedicado correctamente). Tenho 30 anos, fisicamente não aguento as longas sessões, e honestamente em termos de poker não tenho tido muita coisa a favor.

O desafio era enorme e como sabemos agora não foi vencido, com Chuck Bass a "ficar-se" pelos €7.008.

Num longo texto publicado no 2+2, cujo original podem ler aqui, Chuck Bass despediu-se assim daquela que foi a sua profissão durante 10 anos:

Há 10 anos atrás estava eu a trabalhar numa estação de serviço, recebendo $10 à hora. Passava todo o tempo livre a jogar e a estudar poker online. Após alguns meses de prática, comecei a subir até um ponto em que ganhava e perdia milhares de dólares numa única sessão. Trabalhar 40 horas por semana no meu trabalho muito menos entusiasmante parecia não fazer sentido, por isso desisti não fazendo ideia se iria conseguir fazer do poker a minha profissão.

Consegui. Apesar de a minha carreira no poker ter tido altos e baixos, no geral tenho todos os motivos para ficar orgulhoso dos meus feitos. Nunca cheguei ao topo da pirâmide, mas para alguém que abandonou os estudos no liceu para trabalhar numa estação de serviço, cheguei bem longe. Ganhei o maior torneio ao vivo do meu país, alguns Sunday majors, uma variante obscura do World Championship que nunca tinha jogado, fui durante muito tempo o líder de MTT's online da Finlândia, e vi a minha cara na capa da maior revista de poker do mundo. Mas mais importante que isso, realizei sonhos de infância e objectivos de vida, graças a um jogo de cartas. Acho que não podia pedir muito mais.

Mas tudo tem um preço, e o poker não é diferente. Se queres chegar ao topo deste jogo, tens de dar tudo. E quero dizer mesmo TUDO. Nos primeiros cinco anos da minha carreira, raramente prestei atenção ao mundo exterior. Só pensava em poker. Já jogava/estudava umas 60 a 70 horas semanais, e quando não estava no computador, muitas vezes acabava por me ver a pensar em mãos de poker de tal forma, que fui muitas vezes contra postes na rua. Acho que não fui grande namorado para as raparigas que namorei naquela altura, e muitas velhas amizades deterioraram-se. É realmente difícil viver dentro da bolha do poker e ao mesmo tempo estar actualizado com o mundo real. Tive vários problemas de saúde ao longo dos anos, e tenho quase a certeza que um dos motivos para esses problemas era o stress e a falta de sono, por causa do poker.

Quando tinha 21 anos e tinha acabado de me despedir do meu trabalho, só queria jogar poker. Apenas a ideia de que em certo dia teria de deixar de jogar, era um pesadelo, literalmente. Mas à medida que os anos passaram, comecei a ficar cada vez mais curioso com outras coisas na vida, e ao mesmo tempo comecei a ter menos ligação emocional em relação ao poker.

Sabes aquela sensação que quando estás a namorar com uma pessoa há muito tempo, e começas a sentir que já não resulta, mas não tens coragem para acabar porque tens receio do desconhecido? É assim que descrevo a minha relação com o poker nos últimos anos. E também o traí - apliquei muito esforço e energia noutros projectos, tentando descobrir o que fazer da minha vida. Desde 2015 que sei que não queria mais ser jogador de poker, mas faltou-me a coragem para desligar a ficha. Para alguém conhecido por fazer grandes bluffs nas etapas finais dos torneios, às vezes sou muito fraquinho.

E por isso, a partir de hoje, retiro-me oficialmente do jogo. E sinto-me aliviado. Sei que alguns de vós ainda jogam poker a tempo inteiro, e para vós deixo alguma sabedoria de um velhote:

Olhando para os 10 anos que passaram, tudo o que passou nas mesas de poker quase não tem sentido comparado com o que passou fora delas. Parece um grande cliché, mas é a verdade. Joguei umas 5 milhões de mãos de poker online e passei muitos anos a viajar pelo mundo para jogar torneios ao vivo, mas nenhuma das mãos que joguei, ou prémios que ganhei, se destaca. É tudo uma névoa de flops, turns e rivers. As coisas que recordo são as pessoas fantásticas que conheci, os países que visitei, os companheiros com quem dividi casa, os projectos em que participei, e todas as coisas que fiz na indústria, fora das mesas. Se alguém me retirasse alguns dos meus títulos online, não sentiria nada de mais, mas ficaria triste se a pequena marca que deixei na indústria fosse apagada. O poker é uma carreira extremamente anti-social, mas tal como tudo na vida, no final o que importa são as pessoas à tua volta. Tenho tido a sorte de estar rodeado de jogadores de poker que são boas pessoas, e tem sido um verdadeiro prazer partilhar esta aventura com vocês.

O meu conselho para todos os que ainda estão a grindar: tirem algum tempo das mesas, cultivem-se, façam amigos, viajem pelo mundo, socializem, e encontrem maneira de retribuir. Pensando bem, não há um único dia da minha carreira que eu possa rever e dizer: "Estou muito feliz por ter decidido jogar poker naquele dia". Os jogos não vão para lado nenhum, mas a vida passa a correr. Parece que foi ontem que tirei a foto do meu perfil, mas foi há 9 anos.

Outra coisa que me deixa muito feliz é que na segunda metade da minha carreira, ganhei interesse noutras áreas da minha vida, e esforcei-me muito para melhorar pessoalmente e aprender sobre o mundo. Agora sou um jornalista encartado, escrevi para mais de 20 revistas, criei conteúdo para diversas grandes empresas, escrevi e publiquei alguns livros, e no meu tempo livre estudei uma variedade de assuntos que me intrigam. Graças a tudo isto, em vez de ficar preocupado por ter um vazio de 10 anos no meu curriculum vitae, estou à procura de trabalho com entusiasmo. Não tenho bem a certeza do que vou fazer a seguir - além de hibernar nos próximos 3 meses, apenas para recuperar o sono - mas siga a minha carreira para onde seguir, tenho a certeza que vou triunfar. Apesar de o poker poder ser esgotador, também te pode dar muita confiança e valências que podes aplicar no mundo real. Não existem muitas carreiras que tenham mais stress, e se consegues viver num mundo em que 99% das pessoas falham, tenho a certeza que podes viver a fazer muitas outras coisas. O poker tem sido uma ferramenta de aprendizagem incalculável sobre psicologia, tendências, resolução de problemas, e na verdade sobre tudo o que uma pessoa precisa para ter sucesso na vida. Estou ansioso para poder aplicar estas valências em algo completamente diferente.

Ok, acho que está tudo dito. Tinha pensado marcar várias pessoas aqui (o texto original foi publicado no Facebook pessoal e privado, e só depois no 2+2), que tive o prazer de conhecer ao longo dos anos, mas espero que saibam quem são. A melhor das sortes para todos os que ainda grindam, vou estar a puxar por vocês <3

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