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Está a Amaya a espremer a galinha dos ovos de ouro?

Ficamos esta semana a saber que o EPT vai desaparecer a meio desta que é a sua 13ª temporada, dando lugar ao PokerStars Championship e PokerStars Festival. Isto foi anunciado durante o EPT Barcelona, que voltou a bater recordes.

Mas até que ponto é que esta luta constante pelos recordes é positiva para o poker?

Alguns profissionais têm mostrado o seu desagrado com o rumo que os eventos ao vivo da PokerStars têm tomado, queixando-se que a nova dona da sala (Amaya Gaming Group), está cada vez mais focada no lucro, esquecendo o bem estar dos jogadores.

Uma das queixas é o novo sistema de distribuição de prizepool, que paga agora a 20% dos participantes, fazendo com que as posições mais baixas recebam pouco mais que o buy-in do torneio.

Mas a nova distribuição do prizepool não é a única queixa, num artigo de Andrew Burnett do site PokerTube, este faz uma compilação das queixas de jogadores como Dara O'Kearney, David Kilmartin Lappin. Queixas que incluem a nova hora de arranque dos torneios (10h da manhã, mais cedo que anteriormente), dealers inexperientes, staff stressado e seguranças mal encarados.

De acordo com os dois jogadores, as constantes filas verificadas no EPT Barcelona, criaram um ambiente tenso, com o stress a afectar tanto o staff como os jogadores, que chegavam às mesas já de mau-humor.

O'Kearney compara mesmo a experiência vivida em Barcelona, com a que viveu durante o circuito MPN em Tallinn.

As pessoas vêm pelo poker (falando de Tallinn), mas ficam e continuam a voltar às diversas etapas pela experiência. A Stars costumava ser muito boa nisso. Nos primórdios eles tratavam os eventos ao vivo, como parte da campanha de marketing, e faziam orçamentos ajustados a essa realidade.

Com o passar do tempo deixaram de querer gastar dinheiro com isto, e os sacos de ofertas começaram a ficar mais manhosos, as festas menos impressionantes, os hóteis simultaneamente piores e mais caros, e os torneios mais rápidos e com mais rake. Em Barcelona disseram-me que a Amaya quer deixar de chegar ao fim dos eventos "apenas" com as contas saldadas: eles querem fazer o máximo de dinheiro que conseguirem. E se se nota.

Falando sobre o caso específico das estruturas dos torneios, Lappin disse o seguinte:

Algures durante o verão, a PokerStars apresentou o programa do EPT Barcelona. As estruturas da maior parte dos torneios eram piores que as do ano anterior, com níveis mais curtos e a introdução de uma ante muito agressiva. Os torneios começariam às 10h da manhã, uma hora imoral. O programa também tinha menos torneios de buy-in inferior a €500. A 17 de Agosto a PokerStars anunciou que ia pagar a 20% dos fields no EPT/Estrellas Barcelona.

A 18 de Agosto foi anunciado que o último quarto desses 20% receberia €1.100. Isso mesmo - a devolução do buy-in. Nem um cêntimo de lucro. Nem sequer o preço de um café. O verdadeiro reembolso da vergonha. Até nos anos 80, o concurso Bullseye dava aos finalistas perdedores, o bilhete de autocarro para regressar a casa.

Lappin queixa-se ainda do trabalho dos seguranças do espaço:

Eu queria apoiar dois amigos muito próximos, no que podia transformar-se num resultado capaz de lhes mudar a vida, mas fui afastado por um segurança demasiado zeloso, que pensava estar a esvaziar a discoteca da moda à hora de fecho. Ele foi rude, físico, e hostil para todos os que estavam a acompanhar o torneio, acabando por nos confinar a uma zona delimitada por cordas, a uns 60 metros da mesa.

Se não fosse a intervenção do extraordinário Director de Torneios, senhor senso comum Nick O'Hara, não teríamos conseguido apoiar os nossos amigos na mesa final onde conseguiram o 4º lugar (Nick) e 9º lugar (Dan). O Daragh Davey, o Parker Talbot e eu tentamos divertirmo-nos ao máximo, mas parecia que a PokerStars estava a sugar o divertimento todo do jogo.

Para Lappin a continuar assim, a PokerStars vai começar a perder muitos jogadores nos seus eventos ao vivo:

A PokerStars construiu uma marca ao vivo muito sucedida, porque criou uma sinergia entre a experiência online e a ao vivo. Os satélites online qualificavam jogadores para os eventos ao vivo. Os eventos ao vivo levavam mais jogadores e inscreverem-se na sala online. Contrataram grandes directores de eventos e um fantástico staff de torneios. Os circuitos eram na sua essência, um veículo promocional, dando visibilidade à marca, e por isso aceitavam ter um modelo que acabava break-even. Fizeram aquisições acertadas e parcerias com parceiros locais. No geral, os jogadores eram tratados como consumidores valiosos, e por consequência, sentiam-se apreciados e ficavam leais.

Sinto nostalgia desses tempos e se calhar preciso de o esquecer e aceitar a nova realidade, mas a verdade é que quase tudo em mim diz-me que não tem de ser assim.

O'Kearney termina falando sobre se a PokerStars é um player tão grande no mercado, que não pode cair:

O poker está cheio de cadáveres de jogadores, eventos e salas que se pensava serem grandes demais para cair. E a Amaya em particular mostrou uma capacidade impressionante de pensar que podem espremer mais uns euros matando a galinha dos ovos de ouro, para vender a carne.

Lembro-me quando a Ongame tinha a quarta maior sala online. Depois a Amaya assumiu as rédeas e matou-os. Lembro-me quando a Full Tilt entrou directamente no segundo lugar, quando voltaram a trabalhar depois da Black Friday. Entrou a Amaya e começou outra espiral mortífera.

Lembro-me de ficar maravilhado com o crescimento do UKIPT, desde o seu início pouco promissor, aos fields com mais de 1.000 jogadores, num armazém duma zona industrial nos arredores de Nottingham. E ficar estupefacto como a Amaya conseguiu chatear de tal forma as pessoas que mal conseguiu persuadir uma centena de jogadores ao muito sumptuoso Hippodrome no centro de Londres, no passado mês de Abril.

Ouvi muitos profissionais dizerem que não iam a Malta, pois as mais recentes alterações tiraram todo o divertimento e lucro das viagens, e ouvi jogadores recreativos queixarem-se de o mini cash nem sequer cobrir as despesas, e vi o turista de poker por excelência - Aseefo (Asif Warris), a deixar Barcelona ainda nos primeiros dias, dizendo que deixou de ter piada. Não consegui evitar o pensamento de se este seria um ponto de viragem que daqui a uns anos vamos relembrar.

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