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''Apenas nasci na hora certa e fui ao jogo na altura certa'' Eastgate em entrevista

O campeão do mundo em 2008 tem andado afastado, de novo, das mesas de poker, com o último resultado ao vivo a ser conseguido no "histórico" ISPT Wembley, onde a armada lusa marcou presença, em 2013. O dinamarquês esteve em Tiblisi, para o WSOP Circuit, e falou com a PokerListings.
P: Então como tem sido a vida do vencedor do, provavelmente, maior prémio de sempre - $9.1 milhões - visto que não vendeste acção? [NdT. antes dos impostos...]
 
R: Não tenho jogado poker seriamente há cerca de seis anos, excepto algumas situações ocasionais.
 
O que tenho feito? Não tenho feito nada de especial. Voltei de Londres para casa, Dinamarca, em 2013 e tentei estudar bio-medicina. Infelizmente falhei quatro em quatro exames e não pude continuar. Eu tentei mesmo o meu melhor mas não consegui encaixar a matéria. Desde 2014 que tenho andado a vaguear, como nos 3 anos e meio antes de voltar a estudar.
 
Não estou aborrecido. Depois de passar tanto tempo sozinho, já não me aborreço mais. Mas se olhares de fora parece mesmo aborrecido. Não quero continuar assim o resto da minha vida. Tenho que estabelecer objectivos, encontrar a paixão duma forma ou de outra. Estou contente mas não digo que esteja feliz com a situação. No final, depende de mim mudar.
 
Não tenho preocupações financeiras, como tal não me posso queixar. Apenas não tenho gosto por fazer nada em específico mas sei que preciso de o encontrar, doutra forma sei que me arrependerei no futuro.
 
P: Então, estás retirado do poker outra vez?
 
R: Sim. Em 2010 retirei-me do poker por cerca de 8 meses, tendo jogado depois alguns eventos, mas foi isso. Eu diria que estou retirado desde o verão de 2010.
 
P: Revelaste que há par de anos atrás perdeste uma elevada quantia de dinheiro nas apostas desportivas.
 
R: Sim.
 
P: Ainda fazes apostas?
 
R: Não.
 
P: Mas não tens preocupações financeiras, como tal não perdeste tudo.
 
R: Não perdi, de maneira nenhuma, todo o meu dinheiro. Sou financeiramente independente e mudei o meu estilo de vida para um bastante normal. Os meus gastos estão ao nível de um homem regular, como tal tenho dinheiro para os próximos 70 ou 80 anos. Não vivo um estilo de vida jet 7; é algo que não acho muito apelativo.
 
Não tenho carro, por exemplo, porque não preciso de um. Onde vivo na Dinamarca posso facilmente deslocar-me de bicicleta. Não tenho anda que seja extremamente dispendioso, como tal posso levar uma vida bastante barata.
 
P: Então, estando distante do poker, o que te trás aqui ao WSOP na Georgia?
 
R: A Adjarabet contactou-me, através de um amigo, e pensei "porque não ir passar um par de dias à Georgia e jogar?"
 
P: É o regresso de Eastgate?
 
R: É um mini-regresso. Joguei o main event, perdi para um georgiano que encaixou um set ao flop. Encostei o river com sete alto e ele teve um call fácil.
 
Agora estou a jogar cash games. Jogo $1/$2, muito mais baixo do que os jogos que costumava jogar.
 
P: O antigo campeão do mundo a jogar $1/$2?
 
R: Divirto-me, mas o dinheiro não será provavelmente significativo.
 
P: Ainda segues o poker'
 
R: Sigo parte, mas não muito. Se reparares nos resultados dos jogadores nunca sabes quanto é que eles recebem mesmo. Eu gostava de saber a informação toda. Quero saber o que significa para todos, qual é a banca que têm, quais os gastos, quanto valem. Nunca consegues esta informação. Como tal, não quero saber se alguém ganha 5 torneios seguidos. Não me faz qualquer diferença.
 
Se ouvir dizer que o Viktor Blom ganhou $300k num dia, e perdeu $200k no seguinte, é como ver uma acção de bolsa que não é tua subir e descer.
 
Não consigo pensar em nada mais irrelevante para mim.
 
P: O que achas de trazer as WSOP para os países do Leste?
 
R: Bom, parece que eles adoram jogar poker, por isso parece-me uma muito boa idea.
 
Os torneios são bem frequentados e este é o 2º mais espectacular lugar onde já  joguei poker, depois do estádio de Wembley.
 
P: A Adjarabet convidou-te a vir cá. Haverá algum contracto ou patrocínio?
 
R: Eles têm-me tratado muito bem e são grandes no mercado georgiano, mas não há qualquer plano para uma cooperação de longo-termo.
 
P: Não tens saudades do poker?
 
R: Quando comecei há 10 anos, pensei que iria fazer isto para o resto da minha vida. Quando ouvia jogadores dizerem que apenas queriam ganhar dinheiro suficiente para serem independentes e retirarem-se, não conseguia compreender.
 
P: Mas fizeste isso mesmo.
 
R: Fiz isso mesmo. Por 2010 percebi que tinha atingido tudo o que queria. Cheguei a um pico.
 
Fiquei cansado de a minha disposição variar consoante o que conseguia nas mesas. O mais consciente a fazer teria sido continuar a jogar sem arriscar o meu dinheiro.
 
Eu era um viciado, um gambler degenerado, mas a certo ponto fiquei farto. Adoro jogar aqui na Georgia enquanto aqui estiver mas não vou continuar a jogar quando regressar. Tenho amigos no negócio do poker e continuo em contacto com eles mas não tenho qualquer desejo de voltar a estar horas numa mesa sentado. Vou voltar à minha quieta vida depois disto.
 
Considero-me muito sortudo. Podia ter entrado numa grande downswing e perdido grande parte dos meus ganhos, mas tal nunca aconteceu. A minha inteligência é provavelmente mediana e não tenho nada que me indique que estava predestinado a conquistar tal quantia de dinheiro.
 
Apenas nasci na hora certa e fui ao jogo na altura certa.
 
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